Neste primeiro post de matérias sobre a grande área da Silvicultura, faremos uma abordagem geral e sintética sobre o manuseio de sementes e a gestão de viveiros florestais, uma vez que trata-se de temática com grande relevância em atividades e estudos florestais, e que ainda carece de ressalvas constantes. Bem como, considera-se esta, a fase fundamental no planejamento florestal realizado pelo engenheiro, decisiva para o sucesso ou insucesso da implantação.
Destacamos que, todos procedimentos, recomendações e orientações técnicas devem ser sempre e realizados e acompanhados por um profissional engenheiro florestal, capacitado para tratar de temas referentes a gestão e produção florestal.
Coleta e beneficiamento de sementes
O primeiro passo para produção de mudas florestais e posterior estabelecimento de um viveiro é a coleta de sementes, que graças ao mecanismo de dormência, possibilita que fiquem disponíveis para serem armazenadas por longos períodos de tempos, provendo assim, condições para que as mudas possam ser produzidas em épocas distintas daquelas que as sementes foram produzidas.
A coleta de sementes deve ser feita de árvores selecionadas, considerando os objetivos do plantio florestal que será formado, chamadas de árvores matrizes, essas árvores em sua maioria apresentam as chamadas ‘características superiores’ às demais, como altura, boa formação de copa, bom diâmetro, qualidade da madeira, frutificação, não presença de bifurcações ou ataques de pragas e doenças. Todavia essas características podem variar de acordo com a finalidade do plantio da floresta.
A coleta deve respeitar alguns requisitos; em florestas naturais a mesma não pode ser feita todas de uma mesma árvore matriz, sendo recomendado coletar de no mínimo 15 árvores por espécie, estando distantes entre 50 e 100 metros entre elas, se por acaso as árvores se localizarem próximas umas das outras, nesse caso deve considera-las como sendo uma família, devendo colher o fruto de no mínimo 5 grupos de famílias com distâncias variando de 50 a 100 metros, e em 3 árvores diferentes da mesma família. Já se você for coletar sementes em uma floresta plantada deve-se coletar de um maior número de árvores possíveis, partindo-se do princípio de que todas possuem a mesma característica genética.
Exemplo árvore matriz Ipê a esquerda.
As sementes devem ser coletas em sua época de maturação (varia entre espécies), ou seja, quando os frutos começam a secar e abrir ou até mesmo mudar sua coloração (maturação). Deve-se tomar cuidado com os frutos leves ou alados (como é o caso dos ipês) eles devem ser coletados antes que se abram, pois os mesmo podem ser levados pelo vento.
Existem algumas maneiras das sementes serem coletadas, podendo ser através de escadas, utilizando podão, equipamento de alpinismo, etc. esses métodos variam muito de espécie para espécie, terreno e experiência do coletor.
Beneficiamento das sementes coletadas
Após termos coletados as sementes entramos na parte do beneficiamento. Essa fase consiste na remoção das sementes de seu fruto, sementes envoltas de frutos carnosos podem ser extraídas por meio da técnica da maceração ou despolpamento (bastante utilizada para frutos de goiti, araçá, jambo, mangaba, cajarana, cajá, jatobá) com uso de peneira e água o coletor ira esfregar os frutos para que os mesmos liberem as sementes, após essa técnica as sementes são postas para secagem, esse despolpamento do fruto pode variar conforme a espécie, algumas são necessário os frutos ficarem imersos em água por até 24 horas.
Beneficiamento sementes com peneira
FONTE: Embrapa
Para a retirada das sementes dos frutos secos caso os mesmos não se abram naturalmente utiliza-se processos mecânicos como martelos, facas, tesouras, facões e até mesmo machado (ex. Flamboyant, tamboril, jucá).
Depois de beneficiadas, as sementes contêm materiais indesejáveis (como restos de frutos, galhos, sementes chochas e de outras espécies, etc.), que devem ser removidos afim de facilitar a secagem, o armazenamento e a semeadura, para espécies florestais costuma-se utilizar peneiras ou até mesmo catação manual.
É importante que as sementes sequem até atingirem a umidade adequada para a espécie (que varia bastante, podendo ser de aproximadamente 5% para algumas e de 40% para outras, são as chamadas sementes ortodoxas, diferentemente das recalcitrantes que não toleram o processo de secagem sendo que as mesmas devem ser plantadas logo após a colheita ex.: abacate, manga, cacau), quando estarão prontas para serem armazenadas. Isto diminui o risco de que elas sejam atacadas por fungos e outros microrganismos ou que percam sua capacidade de germinar.
Após todo o trabalho com as sementes, parte-se para o setor da preparação do espaço para produção de mudas, nesta etapa, trataremos do planejamento e instalação de viveiros florestais.
Planejamento e instalação de viveiros
O viveiro de produção de mudas é uma área ou superfície de terreno, com características próprias, destinada a produção, ao manejo e a proteção das mudas até que tenham idade e tamanho suficientes para serem transplantadas no local definitivo, resistindo às condições adversas do local de crescimento e apresentar um bom desenvolvimento.
O êxito de um projeto, quer tenha a finalidade de ornamentação, produção de frutos, florestas ou arborização, depende diretamente da qualidade das mudas produzidas. Mudas com sistema radicular e parte aérea bem formada, com bom estado nutricional, livres de pragas e doenças, têm altas taxas de sobrevivência e desenvolvimento após o plantio.
Instalações de um viveiro
Antes de instalar o viveiro é necessário responder à pergunta: por quanto tempo quero ter esse viveiro ativo? É algo temporário ou de longa duração? Com a resposta em mente veja abaixo os principais tipos de viveiro e suas características.
Tipos de viveiro
Quanto à sua duração, os viveiros podem ser classificados em temporários e permanentes, e quanto a proteção do sistema radicular, em viveiros com mudas de raiz nua (canteiros no chão) ou em recipientes.
Os viveiros temporários
Destinam-se à produção de mudas em determinado local durante apenas certo período e, cumprindo as finalidades a que se destinaram, são desativados. Esses viveiros são de instalações simples, geralmente dentro da área de plantio, visando a redução de custos de transporte das mudas e melhor adaptação das mesmas às condições climáticas do local. São adequados quando o objetivo for reflorestamento de pequenas áreas, e até mesmo de grandes áreas, no entanto, longe de outras áreas.
Os viveiros permanentes ou fixos
Têm por finalidade produzir mudas durante muitos anos, e por isso requerem planejamento muito mais cuidadoso, uma vez que suas instalações são mais sofisticadas se onerosas, para suportar o maior período de produção de mudas. Ele deve ser localizado na parte mais central da área a ser plantada, evitando, assim, altos custos de transporte das mudas para o campo.
Se o objetivo for produção de mudas para comercialização geralmente, ele é instalado próximo aos centros consumidores das mudas.
INFORMAÇÕES IMPORTANTES
A extensão do viveiro será determinada em função de alguns fatores:
- · Quantidade de mudas que serão produzidas para plantio e replantio;
- · Densidade de mudas por metro quadrado – em função das espécies;
- · Espécies escolhidas e período de rotação das mudas;
- · Dimensões dos canteiros e passeios entre eles;
- · Dimensão das instalações – galpões e etc.
Escolha do local
O local para a construção de um viveiro deve ser definido depois da análise cautelosa de diferentes aspectos do ambiente. De preferência, o construtor deve considerar uma área com as seguintes características:
Inclinação do terreno: o terreno deve ser levemente inclinado (1% a 3%) a fim de evitar acúmulo de água das chuvas ou mesmo do excesso de irrigação.
Drenagem: o solo deve oferecer boa drenagem, evitando-se solos pedregosos ou muito argilosos.
Fonte de água: a disponibilidade de fonte de água limpa e permanente deve ser suficiente para irrigação em qualquer época do ano.
Proximidade das áreas de plantio: a localização deve ser próxima do local onde as mudas serão plantadas, principalmente no caso de viveiros temporários.
Orientação geográfica: o maior comprimento do viveiro deve ficar no sentido do sol nascente para o poente (leste-oeste), o que garantirá ambientes totalmente ensolarados na maior parte do tempo.
Proteção das mudas: o local deve ser cercado para evitar a entrada de animais, além de implantação de quebra-ventos, que deverá servir para a proteção das mudas, das sementeiras, dos sombrites e demais instalações do viveiro.
Produção das mudas
Após ter coletado e beneficiado as sementes, planejado e montado o viveiro, chegamos na parte de produzir nossas mudas.
Na escolha de recipientes deve-se considerar o tamanho inicial e final da muda, custo de aquisição, durabilidade, facilidade de manuseio e de armazenamento, dentre outros. De modo geral, o tamanho do recipiente deverá ser escolhido de forma a proporcionar o maior volume possível de solo às raízes, mas que seja de menor peso possível e facilmente transportável.
Os recipientes mais utilizados são os sacos plásticos de polietileno negro (A), tubetes de polipropileno reutilizáveis (B) e vasos de polipropileno (C).
A forma de propagação pode ser por sementes, vegetativamente ou por divisão. As plantas propagadas por sementes são plantadas em sementeiras ou canteiros, ou diretamente em sacos plásticos ou tubetes. Para as plantas propagadas vegetativamente, o empreendedor deverá manter uma área com várias plantas matrizes para extração de mudas, enxertos e bulbos. As plantas propagadas por divisão poderão ser plantadas diretamente em sacos plásticos ou tubetes.
Produção de mudas por bandejas suspensas via tubetes.
Sistema de produção de mudas via sacos plásticos.
Cuidados com as mudas em viveiros
Após semeadura, as mudas necessitam de cuidados especiais, para que possam desenvolver-se corretamente.
IRRIGAÇÃO
Sistema de irrigação por via nebulização
Todo viveiro necessita de água. Assim, deve-se planejar uma boa forma de poder irrigar as mudas, diariamente. Deve-se molhar o substrato das mudas pelo menos duas vezes ao dia, recomendam-se o início da manhã e o final da tarde. Para estufa, recomenda-se o sistema de irrigação por nebulização (para deixar o ar úmido) já para casa de sombra ou de pleno sol, os sistemas de irrigação devem promover gotas mais grossas, o que levará um maior consumo de água.
ADUBAÇÃO
Com a perda que pode acontecer durante a rega, a reposição de nutrientes pode ser necessária durante o desenvolvimento das mudas, esse processo varia muito para cada espécie, visto que pode variar a necessidade de determinado nutriente.
Controle de pragas, doenças e ervas daninhas
A presença de folhas murchas, amarelas ou cortadas indica que as mudas podem estar doentes ou sendo atacadas por pragas. Se for o caso de doença nas folhas, recomenda-se inicialmente a redução do sombreamento e da irrigação. Se isso não for suficiente, pode ser necessário pulverização com fungicida, mas qualquer ação nesse sentido deve ocorrer sempre mediante orientação de técnicos profissionais.
O controle de ervas daninhas deve ser feito por todo o viveiro, e não nos canteiros, podendo ser feito manualmente (arrancando as ervas com a mão) ou por mediante o uso de herbicidas.
As sementeiras suspensas resolvem muitos problemas relacionados ao ataque de pragas como moluscos, cupins e roedores.
Principais pragas
Uma das principais causas de perda de mudas e prejuízos em viveiros é a presença de pragas, veja abaixo alguma das principais pragas e métodos de controle que acometem os viveiros florestais.
Nota: Lembrem-se que todas estas estratégias só devem ser realizadas necessariamente sob orientação técnica de um engenheiro florestal, quem de fato entende do assunto e tem competência no planejamento, manejo e decisões do processo productivo, ou de outro profissional especialista na área de atuação.
COM INFORMAÇÕES DE:
http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ideias/Como-montar-um-viveiro-de-mudas-florestais
MENDES, A.S.; SARMANHO, G.A.; ARAÚJO, L.O.; OLIVEIRA, V.P. PRAGAS DE VIVEIROS FLORESTAIS E MÉTODOS DE CONTROLE. Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA